Thursday, November 02, 2006

BARENBOIM by Cristina Fernandes

Foi com uma longuíssima ovação e aplausos de pé que terminou a primeira apresentação de Daniel Barenboim, com a Orquestra Gulbenkian, no domingo. Uma reação previsível após o apoteótico final do Concerto para Piano nº 1, de Liszt, mas que certamente tinha também implícita uma homenagem à acção do prestigiado maestro e pianista israelo-argentino em prol de causas humanitárias, nomeadamente através do uso da música como apelo à tolerância no Médio Oriente. Outra das linhas de intervenção de Barenboim tem sido o apoio aos jovens músicos, como ficou demonstrado na Gulbenkian, onde tocou o Triplo Concerto para Violino, Violoncelo e Orquestra, op. 56, de Beethoven, com o seu filho Michael e com o jovem violoncelista bielorusso Kyril Zlotnikov. Este foi um dos músicos selecionados por Barenboim para a sua gravação recente da integral dos Trios de Mozart na EMI. No entanto a associação destes três músicos com experiências tão diferentes resultou desequilibrada. O ainda muito jovem violinista Michael teve uma actuação muito compenetrada mas não tem ainda a maturidade para tão altos voos. Zlotnikov mostrou carisma e uma sonoridade brilhante e atraente, mas não evitou alguns deslizes técnicos e certos maneirismos. Barenboim evidenciou o seu habitual pianismo robusto e a Orquestra Gulbenkian, sob a direcção envolvente de Foster, mostrou um bom rendimento e algumas belas e subtis sonoridades nas cordas. Barenboim escolheu obras de épocas muito diferentes, que têm em comum tratarem de forma pouco convencional o género concerto. O Concerto para Piano, op. 42, de Schoenberg, é uma espécie de sinfonia concertante com piano solista, onde Barenboim e a Orquestra mostraram uma boa sintonia, ainda que os contrastes de cor e dinâmica, bem como a caracterização de ambientes, pudesse patentear um trabalho mais profundo. Barenboim terminou com o célebre Concerto para Piano nº 1, de Liszt, numa interpretação vulcânica de grande virtuosismo técnico, patente logo desde a enunciação do famoso tema inicial, mas que nos trouxe também passagens de grande lirismo, onde Barenboim mostrou que também consegue ser poético. Mas foi sobretudo a energia, a robustez da toucher e a exuberante dimensão pirotécnica da obra de Liszt, que mais marcaram a actuação de Barenboim, que contou com uma Orquestra Gulbenkian em boa forma, onde se destacaram (ainda em Liszt) os inspirados solos da clarinetista Esther Georgie

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