Tuesday, December 26, 2006

DIA DE NATAL

Hoje é dia de era bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos, como se de anjos fosse,
numa toada doce, de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locator anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha, salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama. Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza da matutina luz
aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.

Jesus o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papa fingiam
que caíam crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal, Dia de Amor, de Paz,
de Felicidade, de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

ANTONIO GEDEÃO


DESCULPEM O ATRASO MAS TIVE PROBLEMAS COM A NETE

2 Comments:

Blogger pecado original said...

Dia de natal foi dia de eu estar com aminha familia.
Tenho o resto do ano para pensar naqueles que nada tem mas no dia de natal quero pensar e dar aqueles que comigo reflectem o dia.
Olhei para o meu sobrinho que me chamou de tia pela primeira vez e pensei se todod nós amassemos a familia que temos nada seria como é na realidade.
beijos originais

12:21 PM  
Blogger mir said...

Dos mais lindos poemas de Natal de sempre!

7:49 AM  

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